A gravidez na adolescência ainda é uma realidade, e uma realidade cada vez mais assustadora.
Actualmente contam-se aproximadamente 13,5 casos de gravidez indesejada por cada mil adolescentes entre os 15 e os 19 anos.
Se para uma uma mãe não adolescente a gravidez pode constituir fonte de ansiedade, calculem o que ela não constituirá para uma jovem ou uma menininha…
Existem alguns artigos que referem a temática da jovem grávida, entre eles, destaco, um estudo feito pela Universidade do Minho, no qual uma amostra de 161 adolescentes, atendidas na Consulta Externa de Obstetrícia da Maternidade Júlio Dinis (MJD, Porto), no período entre Janeiro de 2000 e Dezembro de 2003, foi entrevistada, durante o terceiro trimestre de gestação, com base no Questionário da Consulta de Grávidas Adolescentes da MJD (Figueiredo, 2000), composto por 125 perguntas fechadas, destinadas à recolha de dados sociais e demográficos, respeitantes à adolescente, ao companheiro e à família de origem, bem como ao levantamento das circunstâncias médicas, psicológicas e sociais de risco em que a gravidez decorre. À semelhança do que tem sido reportado por diversos autores, em estudos realizados em Portugal, assim como noutros países, encontramos, na nossa consulta, uma elevada frequência de casos pertencentes às camadas mais desfavorecidas da população, não obstante a variabilidade social e demográfica da amostra, com predomínio de: baixos níveis de escolaridade, situações de precariedade económica, desemprego e profissões de reduzida qualificação. Os dados indicam também a presença muito frequente de experiências anteriores de vida adversas e de problemas na família de origem, quer da grávida, quer do seu companheiro. Outras circunstâncias desfavoráveis foram observadas, pois muitas vezes a gravidez não foi desejada, não foi planeada, o acompanhamento médico foi tardio e verifica-se consumo de tabaco. Os resultados mostram que uma importante dimensão das dificuldades associadas à gravidez é a drástica mudança que acontece em diversas áreas, particularmente ao nível do estatuto ocupacional, estatuto matrimonial, agregado familiar e relacionamento com o companheiro, que frequentemente se deteriora no decurso da gravidez. Sugerem ainda que a qualidade do relacionamento da grávida com o companheiro e com a família do companheiro e o modo como a gravidez é aceite pela adolescente e pelo companheiro, tanto quanto pela família de origem de ambos, são aspectos determinantes da adaptação da adolescente, a qual é favorecida pelo facto de a adolescente viver com a família, estar empregada e não estar a estudar e o companheiro estar empregado. Em conclusão, este estudo alerta para as dificuldades e situações de risco nas quais a gravidez na adolescência pode ocorrer e contribui para a necessária melhor compreensão da especificidade associada a esta problemática, imprescindível à resposta adequada às reais necessidades das mães. Mostra ainda que uma ajuda suplementar justifica-se em muitos casos, dadas as circunstâncias desfavoráveis em que a gravidez na adolescência se verifica. O insucesso escolar acumulado e as elevadas taxas de abandono escolar do nosso País são por si só dois factores que pesaram certamente nesta elevada taxa de gravidez na adolescência.
Um outro artigo interessante de Adriana Campos:
“Afinal era mesmo verdade… a Joana estava grávida. A barriga já bastante proeminente esclarecera definitivamente as dúvidas que ainda restavam. À memória afloraram os momentos que esta passara nos Serviços de Psicologia e Orientação (SPO) e inevitavelmente colocou-se-me a questão: Qual a minha responsabilidade? O que poderia ter feito no sentido de prevenir que a Joana fosse mãe aos 16 anos, uma vez que falara algumas vezes com ela e com a sua encarregada de educação no SPO da escola? O que fazem as escolas para diminuir a taxa de gravidez na adolescência, já que está é tão elevada no nosso País?
A desproporção entre a idade da Joana e o tamanho da sua barriga e todas estas questões inquietaram-me de tal forma, que decidi procurar identificar claramente os factores que contribuíram para que mais uma jovem em processo de formação e desenvolvimento tenha engravidado. Diversos estudos demonstram que existe uma diversidade de factores associados à gravidez na adolescência, tais como factores individuais, familiares e extra-familiares, nestes últimos pode incluir-se a escola.
Que relação poderá então existir entre a escola e a gravidez na adolescência?
A escola é sem dúvida um contexto de referência na compreensão da gravidez precoce, uma vez que esta surge frequentemente associada ao insucesso escolar, a baixas expectativas quanto ao futuro escolar e profissional, ao abandono escolar e à entrada precoce no mundo do trabalho. O insucesso escolar acumulado e as elevadas taxas de abandono escolar do nosso País são por si só dois factores que pesaram certamente nesta elevada taxa de gravidez na adolescência. Algo não deverá estar a correr muito bem no nosso ensino, já que são demasiados os alunos que chegam ao 2.º ciclo sem competências de leitura e escrita, que lhes permita prosseguir estudos.
Quanto ao abandono, continua a ser encarado com alguma leviandade por parte de algumas escolas: o que abandona a escola é considerado frequentemente pelos professores como menos um a chatear…
A Joana também tinha um percurso escolar marcado pelo insucesso e também abandonara a escola, a sua gravidez surgira posteriormente ao abandono.”
Após esta reflexão houve um dado que me deu alguma tranquilidade. Já depois de a Joana ter abandonado a escola, contactei a família no sentido de que esta integrasse um curso profissional. Apesar de ter sido admitida no referido curso e de se ter mostrado muito motivada inicialmente, acabou por desistir de o frequentar. Foi uma oportunidade que a Joana não foi capaz de aproveitar e que poderia ter quebrado o ciclo. Infelizmente muitas jovens não têm sequer oportunidade de quebrar este ciclo porque frequentemente o abandono é visto como um problema da família e não como uma luta que a escola tem de ajudar a travar. Felizmente, pouco a pouco, as mentalidades parecem estar a mudar.
Adriana Campos é licenciada em Psicologia, pela Universidade do Porto, na área de Consulta Psicológica de Jovens e Adultos, e mestre em Psicologia Escolar. Concluiu vários cursos de especialização na área da Psicologia, entre os quais um curso de pós-graduação em Psicopatologia do Desenvolvimento, na UCAE. Actualmente é psicóloga na escola E B 2/3 de Leça da Palmeira, para além de dinamizar acções de formação em diversas áreas.
Artigo a pesquisar: Gravidez na adolescência – 2-7-2003 – In Educare
Outros locais que são fonte de pesquisa para se aceder são:
Artigo de Margarida Pereira e Joana Santos
Continua …
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