Constituem factores fundamentais para o desenvolvimento nutricional, motor, cognitivo e psicossocial do bebé o alimento materno (leite materno) assim como a estimulação adequada da criança, essencialmente nos primeiros meses de vida.
A noção desse declínio – observado pelo número cada vez menor de mães dispostas a amamentar, conduzindo a um desmame precoce – fez com que os enfermeiros fizessem parte de programas educacionais para combater esse mesmo problema.
Contudo para o bebé – desde que nasce e ainda quando tem poucos meses de vida – é fundamental o estabelecimento do vínculo afectivo entre ele e a sua mãe. A esse vínculo afectivo habitualmente dá-se o nome de “apego”.
“Apego” é uma expressão usada tanto pelo senso comum como pelos meios acadêmicos. É frequente usarem-se expressões como: o José é muito “apegado” à sua mãe; a Joana é muito “apegada” à sua família ou a seu namorado.
Na definição de Ainsworth (1989) citada por Bee (1996), tais expressões referem-se, em verdade, a um vínculo afectivo desenvolvido pelo indivíduo em relação a um parceiro que pela sua importância, deseja-se que esteja sempre próximo e que não pode ser substituído por nenhum outro.
O apego é definido por Bee (1996) como uma variação do vínculo afectivo, onde existe a necessidade da presença do outro e um acréscimo na sensação de segurança na presença deste. No apego o outro é visto como uma base segura, a partir da qual o indivíduo pode explorar o mundo e experimentar outras relações.
Bee (1996) usa o relacionamento pais e filhos para demonstrar a diferença entre apego e vínculo afectivo. O sentimento do bebé em relação a seus pais é um apego, na medida em que ele sente nos pais a base segura para explorar e conhecer o mundo à sua volta.
As pesquisas de John Bowlby, psiquiatra e psicanalista inglês, sobre os efeitos nefastos na saúde mental da privação da figura materna nas crianças, começaram a partir de sua experiência como assessor da Organização Mundial de Saúde na área de saúde mental. Bowlby, juntamente com James Robertson (1948), estudaram os efeitos da privação materna em crianças com idades entre 2 e 4 anos. Estas crianças foram observadas antes, durante e depois da separação das suas mães (Bowlby, 1990).
Quando John Bowlby estudou o vínculo entre mãe e filho, desenvolvendo a teoria do apego, concluiu que essa ligação era parte de um sistema de comportamentos que servia à protecção da espécie, já que os bebés humanos são indefesos e incapazes de sobreviver sozinhos por um longo período de tempo. Deste modo, o apego dos bebés às suas mães ou cuidadores é o que possibilitaria a sobrevivência da espécie (Bowlby, 1990; Hoffman et al, 1996).
Dentre as muitas contribuições que as pesquisas em etologia trouxeram ao estudo do desenvolvimento humano, uma delas foi a de que em alguns períodos da vida os indivíduos estão mais sujeitos a serem influenciados por determinados factos, que em outros. Este conceito – chamado em etologia de Períodos Sensíveis – é observado na natureza animal, sendo um exemplo a experiência realizada com patos que 15 horas após saírem do ovo tendem a seguir qualquer objecto que se mova (Bowlby, 1990).
Cristina Morais
Bibliografia:
BEE, H. (1996). A Criança em Desenvolvimento. Porto Alegre: Artes Médicas.
BERK, L. (1999). Desarrollo del Niño y del Adolescente. Madrid: Prentice Ibéria.
BOWLBY, J. (1990). Trilogia Apego e Perda. Volumes I e II. São Paulo. Martins Fontes.
BRAZELTON, T. (1988). O Desenvolvimento do Apego. Porto Alegre. Artes Médicas.
BUSNEL, M-C. (1997). A linguagem dos Bebês: Sabemos Escutá-los? São Paulo. Escuta.
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